Até hoje pela manhã, havia lutas ao redor da Universidade Politécnica em Atenas. Algumas centenas de manifestantes permaneceram no edifício toda a noite e ataques esporádicos foram feitos com pedras e coquetéis molotov às forças da ordem que tinham cercado a universidade. Os antidistúrbios lançaram quilos de bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo, muitos, dentro da universidade.
Sucedeu uma assembléia dos ocupantes e solidários e se decidiu continuar com a ocupação. Desta forma a ocupação permanece e, ainda, chamaram uma exposição artística em benefício/solidariedade com os detidos nesta segunda-feira (22).
Também em Atenas, ontem (21), aconteceu uma manifestação em Kaisariani, com cerca de 200 pessoas, algumas máquinas eletrônicas ATM foram bloqueadas.
Em Ilion, teve duas manifestações separadas, uma chamada por esquerdistas e outra por anarquistas. Posteriormente, 4 bancos, um posto governamental de desempregados e algumas sedes do partido governamental foram atacadas e suas janelas e câmeras de vigilância esmagadas.
Ontem (21) à tarde foi posto fim na ocupação do edifício da GSEE (Confederação Geral dos Trabalhadores), com a entrega do edifício aos membros do sindicato pelego. Logo após cerca de 400 pessoas realizaram uma manifestação em direção à Escola Politécnica (também ocupada) gritando: "O GSEE tornar-se-á um sindicato combativo, em sua segunda ocupação que será para sempre".
Também na assembléia de ontem (21), foi decidida a realização de uma manifestação na quarta-feira (24), no centro de Atenas.
As assembléias das faculdades ocupadas fizeram um chamado para uma manifestação amanhã, às 14hs, em Propilea.
Ontem (21), foram executadas intervenções em mais de 15 espetáculos de teatro. Cerca de 100 pessoas, em sua maioria estudantes de belas artes, de teatro etc., interviram desde às 19h30 até às 23h:30, em Propilea, interrompendo as apresentações teatrais com faixas e lendo textos.
Companheiros também realizaram intervenções na cidade de Volos, no Teatro Municipal, durante a inauguração do Festival de Música da cidade.
Ontem (21) em Tessalônica, aconteceu uma assembléia dentro de uma igreja. Os manifestantes entraram para se proteger do frio e depois discutiram sobre mais ações e protestos para os próximos dias.
Na madrugada de domingo para segunda foram registrados no centro de Atenas ataques contra bancos e algumas câmeras de vigilância.
Em Nea Filadélfia, 6 carros de patrulha foram destruídos.
Em Nea Lonia, o ataque foi contra um banco.
Em Virona, 2 carros foram queimados.
Em Iraklito, 2 bancos e um carro foram atacados.
Em Tessalônica, membros da Iniciativa Cidadã de Bairro Ano Poli, ocuparam hoje (22) de manhã a biblioteca pública do bairro, com a intenção de utilizá-la como centro de contrainformação e ponto de encontro assembleário.
Alguns comentários de um arqueólogo brasileiro em Atenas
Os anarquistas estiveram por muitos anos a um passo da revolução na Grécia. O bairro anarquista, que por sinal é o mesmo bairro da Escola Francesa de Arqueologia, é cotidianamente vigiado por guardas com espingardas enormes. Há muita pichação, cartazes e bandeiras vermelhas e pretas. Há também as livrarias e gráficas que editam Malatesta e Bakunin em grego e estão sempre movimentadas, apesar de serem extremamente humildes. O partido comunista governou o país por décadas e agora se confunde com o atual governo social-democrata (qual é mesmo a diferença entre estas corjas de mandões?). A realidade é distante para a maioria de nós, mas, por causa de meus estudos, tenho ido à Grécia de dois em dois anos desde 2002 e posso dizer que a entrada na Comunidade Européia parece ter feito muito mal às pessoas que vivem lá. O grego pau-pra-toda- obra, músico ou pescador que lotava os cafés nos fins-de-tarde e que via a vida passar com olhos de eternidade, se fez um catador de lixo, como estes que vemos em todas as cidades Brasileiras de grande porte (em São Raimundo Nonato, por exemplo, não existem catadores de lixo, pois não há quase nada no lixo que possa ser aproveitado) . O povo grego cata coisas no lixo e a polícia é de uma violência digna da PM brasileira com os moradores de rua e com os imigrantes albaneses (na Grécia, quase todos os imigrantes vêm da Albânia).
As imediações do museu nacional de Atenas, área nobre ao lado da Escola Politécnica que agora é ocupada pelos revolucionários, era em julho deste ano um lugar fedorento, repleto de mendigos enrolados em cobertores e de rodas de descolados de classe média-alta se injetando. Percebi que a moeda de troca por droga mais comum eram toca-fitas de carro. A situação que já era incômoda, parece ter ficado insustentável depois da entrada na UE, com a redução do grego à condição de mão-de-obra nos países mais abastados do bloco e com a perpetuação da presença colonialista de instituições inglesas, francesas, alemãs e também americanas, principalmente ligadas à arqueologia, que fazem da Grécia um laboratório, cultuando o mais profundo desprezo pelo modo de vida grego atual, tal como seus predecessores fizeram, desde o século XIX.
Não há dinheiro para nada. Cultura que conta com recursos é aquela destinada ao turismo, embora a manutenção dos sítios arqueológicos seja calamitosa. Para visitar a Lésche dos Cnídios em Delfos, ruínas do edifício que teria abrigado algumas das mais belas pinturas da Antigüidade, é preciso cortar mato com o peito. A ilha de Delos, onde nasceram os deuses Apolo e Ártemis, está tomada por ratos e também agride o turista mais curioso com seu mato espinhoso que não é cortado, pois não há funcionários para isso. Presenciei em 2006 uma operação de emergência em que arqueólogos e restauradores gregos foram deslocados de suas funções habituais para cortar mato.
Só aquilo que é absolutamente clichê, como a Acrópole e a Ágora de Atenas, recebem um tratamento cuidadoso. As obras de transporte e embelezamento feitas para as Olimpíadas de 2004 não esconderam a favela que cresce bem ao lado da Via Panatenaica, no bairro da Placa, onde perambulavam filósofos a caminho da Academia de Platão. Tentei ir até lá, mas a barra é tão pesada que voltei antes que ficasse sem o passaporte.
Isso não impressiona os arqueólogos do norte da Europa, acostumados a escavar na Turquia, em Gaza e no Egito. Mas há uma diferença entre estes lugares e a Grécia: o custo de vida. Não se vive com pouco dinheiro na Grécia, o que só piora a situação.
Há um sentido valoroso do movimento que já ganhou contornos de guerra civil: os estudantes estão do lado dos imigrantes. Há vários relatos de que o movimento se pôs contrário ao apartheid entre Gregos e não-gregos. O movimento é contrário ao Estado grego e pode ser o início de algo muito novo no mundo todo. Mesmo na Guerra civil espanhola havia uma liderança declarada e reconhecida. Na atual guerra civil grega não há "cabeças do movimento" e, por isso, a imprensa repete exaustivamente que os revoltosos não sabem o que querem, não têm nenhuma proposta.
Quem não sabe o que fazer ou a quem prender é o Estado e a polícia.
Abraços a todos.
P.
agência de notícias anarquistas-ana
Olhando bem
O cafezal, na verdade,
São laranjeirinhas...
Paulo Franchetti
Olhando bem
O cafezal, na verdade,
São laranjeirinhas...
Paulo Franchetti