domingo, 21 de dezembro de 2008
Comunicado do Colectivo Anarquista Hipátia (Porto) sobre a revolta na Grécia
O Colectivo Hipátia saúda a forma responsável e colaborante como o movimento de resistência grego continua a comportar-se face às dificuldades da economia e à crise que atravessamos.
De facto, com grande sentido de responsabilidade, tem feito funcionar a economia internacional e contribuído para um PIB europeu estatisticamente mais dinâmico.
Prova disso é o esgotamento a que levou as reserva de gás lacrimogéneo, forçando assim a cooperação económica internacional a repor esses tão necessários bens agora em falta!
Que esses jovens sirvam de exemplo a todo o mundo!
Que mais podemos dizer, senão exprimir com humor negro, com raiva, com indignação, o nosso desprezo para com todos aqueles – iguais em todo o lado – que não recuam diante de nada para continuar a defender os privilégios de alguns, ainda que seja preciso, invocando todas as supostas leis anti-terroristas que os ajudam a matar, como fazem no Iraque, na Palestina, no Ruanda, no Darfur, ou agora na Grécia, em toda a parte onde queiram fazer rei o seu próprio dinheiro, ou melhor, o dinheiro extorquido dos bolsos dos pobres de todo o mundo – e para prosseguirem a sua democrática e férrea ditadura à conquista do globo, em nome da finança, em nome do partido.
Duas semanas depois do assassínio às mãos da polícia grega do jovem Alexandros Grigoropoulos, a luta continua. E que essa luta – é o que desejamos – não se esgote na substituição do senhor Karamanlis por um outro qualquer senhor Papandreou, de nome distinto, mas mais que irmão, mas mais que gémeo, mas mais que siamês, clone perfeito da política de Estado que não recua na violência, na arbitrariedade e na rapina!
A crise internacional une todos estes Estados responsáveis, seja qual for a sua cor, que acodem pressurosos, a pôr a mão por baixo, não vá a queda dos senhores banqueiros arrastá-los na ignominiosa falência, à parte os depósitos nas Suíças, os investimentos nos off-shores, a ligação ao tráfico de armas, à roleta dos casinos, aos projectos megalómanos das barragens de muitas gargantas, dos comboios de velocidade supersónica e de tudo o mais, mas sobretudo à espoliação dos pobres, sempre expulsos das suas casas para "requalificar" os sítios onde pode ser rentável a indústria nuclear, a exploração do petróleo ou o negócio imobiliário, seja isso no Alaska em
degelo ou numa qualquer obscura cidade invicta num jardim à beira-mar plantado.
Não cremos num mundo em que nos querem fazer crer que o crime compensa, que isto é para os espertos, onde manda quem pode, e em que quem se fode é o mexilhão, como se isso fosse uma inexorável lei natural a que teríamos todos de nos sujeitar.
Amigos, saudações! Companheiros libertários, aquele abraço!
Agora somos todos gregos, mesmo cipriotas, alemães, espanhóis, dinamarqueses, holandeses, britânicos, mexicanos, belgas, norte-americanos, turcos, irlandeses, suíços, croatas, australianos, russos, búlgaros, italianos, franceses, polacos, argentinos, chilenos, canadianos, uruguaios, austríacos, neo-zelandeses, sul-coreanos, bascos, portugueses, solidários na luta, aprendendo do vosso exemplo, gritando convosco, acreditando juntos, todos estes nossos irmãos aqui na mó de baixo – e criando – um mundo como eles não querem, como eles não sonham... um mundo sem escravos, um mundo sem senhores, e então... lá longe ou aqui hoje, será jardim!
Colectivo Hipátia
Porto, 19 de Dezembro de 2008