A “Casa da Serra”, espaço ocupado na Serra da Arrábida (em Setúbal) desde 11 de Abril de 2007 e alvo de várias tentativas de despejo desde 15 de Dezembro, foi desalojada hoje, dia 24, por ordem do tribunal. Uma desmesurada mas calma caravana policial apareceu logo pela manhã, acompanhada de advogados do proprietário. A operação contou com o corte de todas as estradas de acesso à casa e com um ultimato que exigia, até ao fim do dia, o abandono da casa.
Esta operação policial vem na sequência das tentativas efectuadas por parte de representantes do proprietário, que apareceram na manhã do passado dia 15 de Dezembro, acompanhados por capangas e máquinas, com o objectivo de desalojar e demolir a casa. Perante a intimidação, opôs-se a resistência determinada dos ocupantes e de muita gente solidária, que rapidamente apareceu para apoiar e impedir as máquinas. Ao verem-se impedidos de prosseguir, chamaram a GNR, que, por não existir ordem de despejo, propôs-se a negociar com o fim de chegar a um acordo verbal no qual atribuíam 8 dias para os ocupantes se irem embora.
Aos nove dias, apareceram então os proprietários na tentativa de fazer uma surpresa, mas voltaram a enfrentar séria resistência, e voltaram a chamar a GNR, que aconselhou os proprietários a não tomarem medidas precipitadas e a esperar pelo momento em que se encontrassem na posse de uma ordem judicial. Hoje já existia e foi posta em prática. De salientar que a atitude passiva da polícia acabou por dar origem a um despejo sem tensões, ao contrário do normal.
Segundo um comunicado dos ocupantes, quando foi ocupada, em 11 de Abril de 2007, “a casa estava há já muitos anos deixada ao abandono e com sinais evidentes de degradação, sem portão, portas e janelas. Com o objectivo de dar continuidade ao projecto iniciado com o Punker de Albarquel, (okupação de umas instalações militares dotadas de bunkers, também na Serra da Arrábidam, despejada nos primeiros dias de Abril de 2006) a casa foi restaurada e posta a funcionar de forma a ser possível aí levar a cabo uma sala de ensaios livre de impostos, uma sala de serigrafia, cultivo biológico”, entre outras coisas. Ao longo dos meses muitos foram os concertos, festivais e jantares que se realizaram na Casa da Serra. Muitas foram as actividades numa zona que tem de um lado a SECIL e a co-incineração e do outro, em Tróia, um Resort de Luxo.
O terreno em questão pertence a um dos maiores proprietários da margem sul do Tejo, António Xavier de Lima, dono de empresas de construção civil, de muitos empreendimentos e de uma empresa de material de “bricolage”. Aparentemente, os seus planos para a zona são... um empreendimento turistico.
De referir igualmente que na quarta-feira, dia 23, foi igualmente desalojada outra casa okupada recente em Setúbal. A "Casa da Roda" contava com algumas semanas de okupação e foi alvo de acção de despejo, movido pelo 2º maior proprietário de Portugal... a Santa Casa da Misericórdia, em conjunto com a Brigada de Intervenção Rápida da PSP.
Apesar do crescimento e persistência das okupações em Setúbal, depois de anos de destruição da serra e especulação imobiliária, temos mais do mesmo: ligações obscuras entre grandes proprietários, as grandes empresas e os interesses do poder local, e assim condena-se uma zona ao deserto capitalista que é o turismo, as fábricas, os projectos urbanísticos e as selvas de betão.
Notícia retirada de: http://pt.indymedia.org/