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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Francisco Ferrer i Guàrdia *Fundador da Escola Moderna foi executado há um século



*Fundador da Escola Moderna foi executado há um século *

Se muitos conhecem o filósofo Jonh Dewey ou o pedagogo brasileiro Paulo
Freire, a maioria desconhece que o inspirador destes reputados
pensadores foi o catalão autodidata Ferrer i Guàrdia (1849-1909).

O criador da Escola Moderna, fundamentada em ideais libertários, nasceu
a 14 de janeiro de 1859, em Alella, na Catalunha. Na adolescência começa
a contestar o regime monárquico e o poder da igreja sobre o Estado e os
cidadãos. Através da sua ligação com os republicanos, participa em
tentativas para derrubar do poder a monarquia e que visavam a
instauração da república em Espanha.


Devido à sua atividade política e social, foi exilado em Paris, em 1886,
onde conheceu o ideal libertário preconizado pelos anarquistas e
identifica-se com Paul Robin, o teórico da Pedagogia Integral e fundador
do Orfanato de Cempuis na cidade de Paris.

Em abril de 1901 Francisco Ferrer i Guàrdia recebe uma herança de uma
viúva francesa a quem dava aulas de castelhano em Paris. Aos que
tratavam de o convencer em utilizar o dinheiro para fins eleitorais,
como o líder republicano-socialista radical Alejandro Lerroux responde:
"Servirei melhor as minhas idéias fundando a Escola Moderna do que
fazendo política".

No seu livro La Escuela Moderna, Ferrer definia assim o objetivo da
Escola Moderna: "Extirpar do cérebro dos homens tudo o que os divide,
substituindo-os pela fraternidade e a solidariedade indispensáveis para
a liberdade e o bem-estar gerais para todos."

O ensino ministrado seguia as seguintes orientações: o aluno é livre,
livre inclusive de deixar a escola. O aluno goza de uma ampla liberdade
de movimentos: vai ou não ao quadro, consulta ou não este ou aquele
livro, entrega-se às suas fantasias quando isso lhe agrada, e até pode
sair da sala de aula quando tem vontade de o fazer. Não havia exames,
nem muito menos castigos e recompensas.

Na realidade, a Escola Moderna foi um importante foco de educação
popular: constituída por ensino primário, foi a primeira escola mista na
Espanha (inédito na época em muitos países europeus), de dia era para
crianças e à noite para adultos; teve aulas de francês, de inglês,
alemão, taquigrafia e contabilidade; estava apetrechada com um local
onde se realizavam conferências, vocacionado para os sindicatos e as
coletividades operárias; tinha ainda uma editora a fim de suprir a
crônica falta de material didático, e graças à qual foram editados
manuais escolares, livros para adultos, folhetos, informações e um boletim.

Aos domingos funcionava como uma universidade popular acessível a todos.

Além disso, Ferrer é defensor da educação física e da natação, ao mesmo
tempo que rejeita os jogos e as provas de competição que servem para
alimentar a vã glória dos seus participantes. Estimula os trabalhos
manuais para os rapazes, assim como a jardinagem, a limpeza e os
trabalhos domésticos, uma forma de nivelar ambos os sexos na execução
das mesmas tarefas.

O local escolhido para a instalação da primeira escola foi um antigo
convento da rua Bailén, na cidade de Barcelona, tendo aberto as suas
portas a 8 de outubro de 1901.

Não é de todo alheio à Escola Moderna e aos seus ideias o fato de a
Catalunha ter estado na vanguarda das lutas emancipadoras nos últimos
cem anos.

Em 1905 a Escola Moderna espalha-se por 147 espaços por toda a
Catalunha. Em 1908 contam-se mil alunos só na cidade de Barcelona, e
criam-se centros de ensino do mesmo gênero em Madri, Sevilha, Málaga,
Granada, Cádiz, Córdoba, Palma, Valência, assim como noutros países (em
São Paulo, Lausanne, Amsterdam e Lisboa).

Em junho de 1906, o governo espanhol fecha a escola-mãe, na rua de
Bailén, na seqüência do atentado bombista de Mateo Morral, bibliotecário
da Escola Moderna, contra a carruagem real no dia da casamento de
Alfonso XIII. Ferrer i Guàrdia é detido e processado como instigador do
atentado. Absolvido das acusações, Ferrer sai da prisão em junho de
1907, mas a Escola-mãe em Barcelona jamais reabrirá portas.

Ferrer promove a criação da revista L'École Renouvée com o subtítulo
"extensão internacional da Escola Moderna de Barcelona", cujo primeiro
número é editado em Bruxelas a 15 de abril de 1908 e onde explicitamente
se defendia que o militarismo era um crime, que a distribuição desigual
dos rendimentos devia ser abolida, que o sistema capitalista era
prejudicial aos trabalhadores e que a política dos governantes era
injusta. Também defendia a não-violência.

Ao fundar em 1908 a "Liga Internacional para a educação racional da
infância" conta com apoiantes de peso como Languevin, Bernard Shaw,
Berthelot e Gorki.

No ano seguinte, vários protestos eclodiram na Catalunha contra a guerra
da Espanha com Marrocos. Estes acontecimentos ficaram conhecidos como
Semana Trágica e foram marcados pela revolta da população de Barcelona
que queimou igrejas e conventos, obrigando as autoridades a abandonar a
cidade. No período da revolta, Ferrer encontrava-se de visita a um irmão
que morava em Barcelona. A repressão que se seguiu à Semana Trágica
prendeu e condenou dezenas de pessoas, entre elas Ferrer, preso no dia 1
de setembro. O Tribunal de Guerra reunido para os julgamentos aplicou
penas que variavam de prisão perpétua à execução. A favor de Ferrer
levantaram-se vozes em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. Mas
para que a 'ordem' monárquica e eclesiástica se restabelecesse era
imperioso que Ferrer fosse julgado no Tribunal de Guerra, sem
testemunhas de defesa.

No dia 09 de outubro, o Conselho de Guerra abriu a sessão e ouviu as
contraditórias testemunhas que acusavam Ferrer. A acusação que pesava
sobre Ferrer de ser o líder intelectual da Semana Trágica baseava-se
unicamente numa denúncia formulada numa carta remetida por prelados de
Barcelona.

No mesmo dia foi dado o veredicto final: a pena de morte. A execução
ocorreu em 13 de outubro de 1909, na Fortaleza de Montjuich.

*agência de notícias anarquistas-ana*

Eolo Yberê Libera