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terça-feira, 9 de março de 2010

Sobre as detenções a 15 de Fevereiro em Paris (França)

A 15 de Fevereiro, às 6h da manhã, 7 pessoas foram detidas e as suas casas foram alvo de buscas em Paris, como parte de uma investigação sobre o apoio relativo à rebelião no centro de detenção de Vincennes, e contra a máquina de deportação. De seguida fica mais informação e actualizações sobre estes acontecimentos...

Buscas e despertar às 6h da manhã
Não houve portas arrombadas, e na maior parte do tempo foi possível obter alguns minutos antes de os polícias entrarem (e antes de ameaçarem arrombar a porta).
No total, 50 polícias da polícia anti-terrorista (SAT) da Brigada Criminal (acompanhados por DCRI, Brigada Fiscal, especialista em tencologias informáticas,..) foram mobilizados para esta vaga de detenções. Principalmente, estavam à procura de roupas (em particular cachecóis, vestuário para a cabeça, sweat-shirts, sapatos), mas também flyers, panfletos e cartazes sobre o tema, e em especial os que se opõem à máquina de deportação. Como é óbvio, também apreenderam computadores, telemóveis, agendas, assim como latas de tinta de spray, faixas (“Novembro 2005-Deembro 2008, o fogo continua” e “Não à Nato, Não aos Taliban, desertemos das guerras dos poderosos”). (Os polícias tiraram uma série de fotografias a vários documentos e livros...)
Por fim, beatas de cigarros e escovas de dentes foram levadas para análises ao ADN; e algumas pessoas chegaram ao ponte de lhes serem “pedidas” roupa interior, em vão claro; e num excesso de zelo foram espregados cotonetes em lençóis.
Em seguida, as pessoas foram levadas para interrogatório. Também foram interrogadas outras pessoas presentes durante as buscas. Lembramos de passagem que convém estar presente.


Interrogatórios
Não dizer nada, recusar responder aos polícias e não assinar quaisquer dos seus papéis enquanto se está detido não é tanto uma questão de princípios, mas uma questão bastante prática. Numa situação de detenção, esse é o momento do polícia, onde tudo é feito para se obterem confissões, e tudo o que disseres pode ser usado contra ti... E apesar das técnicas de pressão dos polícias, sabemos que eles não têm o poder directo de prolongar a detenção ou de aplicar uma pena. Neste caso, as pessoas detidas não disseram uma palavra e não assinaram nada.


Caixas multibanco, marchas e ocupações
No início das detenções, as acusações principais são: “conspiração para danos ou destruição graves e voluntários”, “danos ou destruição com fogo ou substância explosiva” e “conspiração criminosa”.
Na prática, as pessoas detidas são suspeitas de terem participado na agitação em redor do julgamento dos acusados de provocarem um fogo no centro de detenção de Vincennes, assim como em lutas contra o mecanismo de deportação. A luta tornou-se mais visível na ocupação dos escritórios da Air France e da Carlston WagonLits, nas “marchas selvagens” que incluíram colagem de autocolantes, pintadas, sabotagem de caixas multibanco (que se destacam no chibanço de imigrantes sem documentos à polícia), com a ajuda de cola, ácido, fogo e martelos, e faixas penduradas no pequeno anel Parisiense.


Isto sim, é uma investigação!
Enquanto que os procedimentos foram classificados, segundo os media, como sendo uma investigação terrorista, durante a detenção o procurador decidiu reclassificar a investigação como sendo sobre actos criminosos, removendo o termo “terrorista”.
Aquilo que está a ser alvo é a luta contra o mecanismo de deportação (e contra as pessoas que permitem que este funcione), assim como as práticas de auto-organização autónoma, e ainda acções directas e anónimas.


O uso de videovigilância por parte dos polícias
Durante os interrogatórios, foram mostrados vídeos aos acusados. Vale a pena referir que na sua maioria as imagens das câmaras (“bolas” colocadas no topo das caixas multibanco) têm boa qualidade: elevada definição, cor, possibilidade de fazer zoom... Cerca de sessenta cassetes já estão no processo. São sobretudo sobre caixas multibanco danificadas, mas também sobre colagem de autocolantes e pintadas feitas durante manifestações (contra os Hóteis Ibis, as agências postais, o BNP (banco), a “LCL”, Société Generals, Air France...). O que irá acontecer quando as prometidas 1300 câmaras forem instaladas na ruas de Paris?


Sobre as amostras de ADN
Todos os acusados recusaram fornecer amostras de ADN (assim como impressões digitais e fotografias), mas os polícias foram longe para descobrir fosse o que fosse que pudesse ter sido tocado pelos acusados: canecas, caixas de plástico, palhinhas, beatas de cigarros... e, numa mostra de grande classe, um porco chegou ao ponto de pensar recolher para análise um tampão menstrual... É possível evitar o contacto com a boca (não deixando muita saliva) com diferentes utensílios, ou esfregá-los no chão para misturar vários traços de ADN que se encontram nas celas.


Ser presente ao juíz e as condições da fiança
Após 48 horas de detenção, e 10 horas nas celas da polícia, cada um foi presente ao juíz com a presença de um advogado oficioso. Três opções eram possíveis: não dizer nada, fazer uma declaração inicial, ou responder às perguntas do juíz.
Para as 4 pessoas que por fim foram presentes a tribunal, as condições da fiança consistiram numa proibição de se verem ou se contactarem, em responderem a procedimentos legais da APPE (Association d’Aide Penale) e em não poderem deixar território nacional sem permissão do juíz.
Por fim, 4 pessoas estão neste momento sob invstigação por “conspiração para danos ou destruição”, e pessoas estão também acusadas de “danos ou destruição com fogo ou substâncias explosivas”. A procuradoria está ainda a tentar acusar uma quinta pessoa.


Travando a luta
A principal função destas detenções e interrogatórios judiciais é separar e isolar aqueles que lutam. Consiste ainda em erradicar determinados tipos de luta tão banais como colagem de autocolantes, pintadas e manifestações independentes/selvagens.
Condenar certas formas de acção com o pretexto de estas serem alvos directos da repressão só serve para aumentar as divisões que o Estado tenta impor.
Esta série de detenções, raids e acusações, à parte o trabalho de serviços secretos que é feito, é apenas mais um ataque dirigido contra qualquer tentativa de agir e destruir o que nos destrói. Tudo continua!


Lutas e rebeliões na Europa
A situação não está apenas confinada à França, dado que na Europa existem muitos actos de rebelião, nos centros de detenção e em seu redor. Para saber mais sobre as variadas lutas que actualmente está a decorrer, podes consultar os seguintes folhetos: Brûlons les frontières e Histoire de révoltes dans les centres de rétention en Europe.
Em Itália, alguns dias depois das detenções em Paris, o mesmo tipo de repressão atingiu pessoas suspeitas de participarem em lutas contra o Centro de Detenção de Imigrantes, em Turim, Lecce, Rovereto... Muitas delas foram deixadas em prisão preventiva ou em domiciliárias, outras ficaram “sob vigilância especial”.
Mas a solidariedade não reconhece fronteiras, e foi com alegria que soubémos recentemente dos ataques contra a DAB na Bélgica e em Espanha.
Não vamos chorar por causa de caixas multibanco destruídas.
A luta continua, como de costume.

Solidariedade activa/revolucionária.

Liberdade para todos, com ou sem documentos.