A 23 de Fevereiro agentes da DIGOS fizeram buscas em dezenas de casas de companheiros em Turim e noutros locais no norte de Itália, sob ordens do procurador Padalino. Seis companheiros foram detidos (três estão na prisão e os restantes em prisão domiciliária) e muitos outros viram as suas casas invadidas por agentes uniformizados que apreenderam computadores, telemóveis e caixas de papéis. A acusação justificativa desta enorme operação policial é, como de costumes, a de conspiração, a qual permite aos polícias prender companheiros acusados de nada mais do que... a sua actividade anti-racista!
Como denotam os relatórios policiais, de facto, as acusações contra os companheiros estão ligadas a iniciativas públicas, concentrações, acções nas ruas e nas praças, distribuição de flyers; tudo coisas que visam romper o silêncio que reina no racismo generalizado e no delírio securitário característicos da Itália actual.
Para quem ainda não reparou, campos de concentração podem ser encontrados por toda a Itália, onde mulheres e homens são fechados à chave, cujo único “crime” foi o de conseguirem fugir dos seus países sem se afogarem como centenas de outros migrantes. Raids e deportações obrigam os habitantes de bairros pobres a viveram como clandestinos e, o que é pior, a submeterem-se e aceitarem condições de vida e de trabalho cada vez mais miseráveis. Os “Italianos”, por sua vez, parecem incapazes de fazerem seja o que for a não ser apanhar os escassos privilégios que um capitalismo agonizante lhes deixou, à medida que lhes é feita uma lavagem ao cérebro por uma incessante propaganda racista que instiga medo e despoleta uma guerra entre os explorados.
Esta operação da polícia é a enésima tentativa, desta vez levada a cabo de forma sensacionalista, de silenciar aqueles não se resignaram ao medo, aqueles que ainda se atrevem a praticar a solidariedade contra a exploração e a gritá-la bem alto no meio do silêncio. As acusações, como dissemos, baseiam-se na solidariedade que os companheiros investigados são culpados de terem expressado com os migrantes em luta, com uma incansável e vigorosa luta a decorrer nos CIE’s (centros de detenção de imigrantes) dos país e, neste caso em particular, no CIE de Corso Brunelleschi, em Turim.
Não é por acaso que no contexto desta operação a polícia também tenha feito buscas no local da Radio Black Out, a única rádio livre nas ondas de Turim, de cujos microfones alguns dos anti-racistas detidos costumavam falar; uma rádio que, apesar das consequências, deu voz às muitas lutas que perturbam a indiferença e a passividade de Turim, das dos imigrantes às dos estudantes, das dos trabalhadores às dos activistas NO TAV. Assim, não surpreende que os poderosos de Turim e os seus polícias se sintam perturbados e assustados com o barulho da batalha travada contra eles; e portanto estão a tentar atingir aqueles que nunca esconderam a determinação de soprar no fogo da revolta de modo a alimentar os poucos mas dignos sinais de vida numa cidade de morte.
NÃO VAI SER UM SUJO PROCURADOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO E OS SEUS POLÍCIAS QUE VÃO PARAR A SOLIDARIEDADE, O ANTI-RACISMO E A VONTADE DE LUTAR!
Anti-racistas sem fronteiras