A senhora não sabe a história do burrinho?
Quer que eu lhe conte a história do burrinho?
Então vou contar. Olhe,
Era uma vez um burrinho,
Que num prado mui mansinho
Pastava com mansidão
E ao pé dele descansava
O seu dono que mostrava
Ser feliz como os que são.
Mas eis que um estranho ruído
Chega dos dois ao ouvido
E põe-se o dono a perguntar:
“Ouviste ou foi ilusão?
São ladrões olha que são
E que te vão levar consigo.”
Volta o burro o doce olhar
Ainda a roer devagar
E diz para o dono que o guarda:
“E se um ladrão me levar
acaso terei que usar
em cima desta outra albarda?”
“Isso não”, responde o dono.
“Ainda que ladrões te tomem
e com ladrões tu te vás
Essa ideia tola afasta
Porque uma albarda te basta
e outra albarda não terás”.
Então, disse-lhe o burrinho:
“Então fuja você
porque o perigo certo é.
Eu por mim fico a pastar.
Pois se esta albarda que me assenta
não diminui nem aumenta,
De que me serve abalar?”
Ensinava este burrinho
A quem se mostra tolinho
E tratos a vida dá
Que é tolice afadigar-se
E em longos passos cansar-se
para ficar onde está.
Por isso digo eu:
seja pequeno ou grande,
o meu voto ninguém merece.
Porque depois do meu voto dado
O dono do voto cresce
E depois está lá em cima,
olha abaixo e não conhece.”
( excerto retirado do filme VEREDAS )