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segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Livro: Mujeres Libres na Revolução Espanhola - Editora Achiamé


RESUMO
Focalizo, neste texto, a experiência de um dos maiores movimentos femininos de massas durante a Revolução Espanhola, o grupo anarcofeminista Mujeres Libres, tendo como referências teóricas a crítica feminista e os conceitos foucaultianos relativos à ética e à subjetividade. No âmbito do movimento revolucionário que se deflagra na Espanha dos anos trinta, essa organização lutou pela autonomia feminina, entendendo claramente a necessidade de criar novos modos de subjetivação num país altamente conservador, religioso e machista.
Palavras-chave: feminismo; Foucault; anarquismo; estéticas da existência; cuidados de si.
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ABSTRACT
This article focuses on the experience of one of the major mass women's movement during the Spanish Revolution, the anarchist and feminist organization "Free Women". It considers Foucault's concepts as well as feminist criticism relating to ethics and subjectivity as the main theoretical references. In the context of a revolutionary movement, that started in Spain in the thirties, the organization aimed at achieving feminine emancipation. It understood clearly the importance of creating new modes of subjectivation, in this highly conservative, religious and male country.
Key Words: Feminism; Foucault; Anarchism; Aesthetics of Existence; Care of the Self.
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Mujeres Libres, da Espanha
A organização Mujeres Libres surge na Espanha pela iniciativa de três anarquistas – a médica pediatra Amparo Poch y Gascón (1902"1968), a advogada Mercedes Comaposada (1901"1994) e a poetisa Lucía Sanchez Saornil (1895"1970), todas militantes da Confederação Nacional do Trabalho – CNT, também de orientação libertária. Formada em abril de 1936, poucos meses antes da eclosão tanto da guerra civil, deflagrada pelas tropas do general Francisco Franco contra as forças populares, como da revolução social, que explode concomitantemente, a organização Mujeres Libres propôs-se lutar pela emancipação das mulheres espanholas, vítimas da ignorância, da opressão do Estado e da igreja e, não raro, de suas próprias famílias. Como afirmava Lucía Sanchez Saornil:
Propus-me abrir para a mulher as perspectivas de nossa revolução, oferecendo-lhe elementos para que forme uma mentalidade livre, capaz de discernir por si mesma o falso do verdadeiro, o político do social. Porque creio que mais urgente que estar organizada nos sindicatos, – sem que desdenhe esse trabalho –, é pô-la em condições de compreender a necessidade desta organização.11
Extremamente agilizada, a organização, em poucos meses, alcança uma ampla adesão das mulheres, espalhando-se por toda a Espanha e reunindo um número considerável de militantes. Algumas historiadoras estimam que tenha atingido até cerca de 30 ou 40 mil afiliadas.12 Além das fundadoras, inúmeras figuras, das quais destaco apenas algumas, ajudam a compor um mosaico bastante multifacetado de militantes ainda a ser mais pesquisado: Lola Iturbe (1902"1990), que assina como Kyralina os artigos que publica; Soledad Storach, uma das pioneiras do grupo cultural feminino CNT, de Barcelona, criado em 1934; Sara Berenguer (Barcelona, 1919), que entrevistei em sua residência em Béziers, no Sul da França, em 2001; Concha Perez (Barcelona, 1915); Suceso Portales, também nascida em meio operário, oradora; Pura Pérez Benavent (Valência, 1919; Ontário, 1995), que estuda na escola racionalista barcelonesa Natura; Pilar Grangel, professora racionalista e militante da CNT; Aurea Cuadrado; Conchita Guillén; Concha Gil; Pepita Struch Pons, que encontrei pela primeira vez na Federación Libertaria Argentina – FLA em sua visita aos companheiros de Buenos Aires, em 2000, e, um ano depois, em casa de Sara Berenguer; Maria Rodriguez Gil; Antonia Fontanillas, hoje com 90 anos, nascida num bairro popular de Barcelona e posteriormente exilada na França, que visitei várias vezes em Dreux e que se tornou o meu principal contato com esse passado; Maruja Lara, que entrevistei em sua casa, em Valência, em 2004; a alemã Etta Federn; Dolores Prat; Jeannette Hardy, que também assina os artigos da revista; Maria Duran (Barcelona, 1912"1995), que se exilou no Brasil e sobre a qual não consegui mais informações até o momento. (...)