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terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Grécia- Foi o disparo contra o polícia antidistúrbios orquestrado pelo estado?

[Tradução aproximada de uma publicação no Indymedia de Atenas, no dia a seguir ao disparo contra um polícia antidistúrbios em Exarchia. O texto a seguir é importante na medida em que parece refletir um sentimento partilhado pela maioria das pessoas do movimento anarquista e do movimento social antagonista do país. O estado grego parece usar alguns dos seus mais velhos e sujos truques com o objectivo, de mais uma vez, tomar a ofensiva. Afortunadamente, o nosso movimento tem um dos mais válidos activos - a memória colectiva. Nos Estados Unidos chamaram-lhe COINTELPRO, em Itália foi a estratégia de tensão, aqui é um atirador isolado dos (mas realmente disparando contra) os espaços que tentamos defender. Não esquecemos, não perdoamos, não seremos intimidados...]

Na madrugada do dia 5/1/2008, por volta das 3 da manhã, uma unidade da polícia antidistúrbios foi alvejada enquanto guardava o ministério da cultura na zona de Exarchia em Atenas. Eles falam de mais de 20 balas e uma granada de mão. O polícia ferido, dizem eles, foi salvo graças ao seu telemóvel que reduziu o impacto da bala que o atingiu no peito.

O nosso primeiro pensamento foi que qualquer indivíduo pertencente ao nosso movimento, não interessa a sua raiva ou o seu suporte a táticas de guerrilha urbana, não escolheria a área de Exarchia (nos últimos dias literalmente debaixo da ocupação da polícia) para executar um ataque deste tipo e pretender escapar seguro.

Por isso não podemos considerar coincidência o facto dos mass media, políticos e seus lacaios, terem vindo a construir uma atmosfera onde uma qualquer acção de vingança contra a polícia era iminente. Não podemos, como é óbvio, descartar a possibilidade desses incidentes ocorrerem - mas não somos loucos ao ponto de acreditar que pudessem ter lugar em Exarchia, ou no caso do incidente anterior (o disparo contra uma carrinha da polícia, alguns dias antes) no campus universitário de Zografou.

O estado, através dos seus porta-vozes, estava a preparar a opinião pública para uma qualquer acção “iminente” contra a polícia. A escolha do lugar do ataque (o ministério da cultura em Exarchia) de alguma maneira estragou-lhes a receita: um ataque numa área urbana tão fortemente vigiada aponta claramente os atacantes, que só podem estar directamente ligados ao próprio estado. Não será necessário dizer que esta gente não teria hesitação alguma em alvejar um dos deles - não é necessário um segundo pensamento sobre o porquê: a vida não representa nada para eles.

A sua acção mostra que estão a tentar neutralizar o clima do assassinato, a sangue frio, do Alexis Grigoropoulos, e a criar mais uma vez alguma simpatia para com a polícia - que neste momento é criticada na rua por quase toda a gente por tudo o que fazem. Estão a tentar criar, ao mesmo tempo, uma atmosfera de violência e terrorismo contra todos os que resistem de qualquer maneira possível.

A escolha de Exarchia, uma área que nenhum grupo revolucionário armado escolheria debaixo das circunstâncias actuais, constroi todas as associações necessárias na mente da sociedade - liberta as mãos dos polícias e juizes para a violência e as condenações contra o todo social… isto sempre na face do desemprego pendente e da crise financeira.

Já foram efectuadas 75 detenções, muitos ataques policiais contra residentes e transeuntes, enquanto existe também informação de buscas domiciliárias - muito útil pare eles.

Aproximam-se dias estranhos, o governo perdeu o controlo há algum tempo e agora lança a violência em grande escala - a violência da qual tem o monopólio.

Uma violência desproporcionada que enfrenta as pedras e os coctails molotof com toneladas de gáses químicos e balas (de borracha e regulares), os ataques dos revoltados com unidades do estado totalmente equipadas e treino militar.

A viragem pré-planificada à direita do governo (não é que antes não fosse já de direita, mas depois de ver o seu núcleo conservador passar à extrema-direita, endureceu ainda mais a sua retórica e as suas táticas de repressão) só pode ser confrontada com manifestações e actos massivos e unitários contra o terror do estado. Com respostas e confrontos mas ruas, com barricadas massivas. Com uma palavra política que falará das pessoas e das suas necessidades, da maneira como são senhoras de si mesmas, da maneira como se afastarão da liderança política autoritária dos partidos que ignoram a exigência persistente da libertação das amarras do estado, das pátrias e do capitalismo.

Sem acções precipitadas e de olhar atento no futuro imediato, precisamos de produzir ideias e propostas através das assembleias públicas para que a auto-organização das pessoas desde a base se torne visível, viável e possível - precisamente da maneira que muitos de nós testemunharam durante os dias da revolta em Dezembro.

Não há outra maneira - senão seremos derrubados, um após o outro.

Como provaram mais uma vez, são impiedosos.

http://www.occupiedlondon.org/blog/